quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Hitchhiking

Os totós (como eu) que acalentavam a esperança de ser a velhice o tempo de gozar do pé-de-meia, da sabedoria acumulada e da reconciliação com Deus e o mundo, e que nem algumas rugas na cara, uns comprimidos à cabeceira e a disfunção eréctil ensombrariam (há comprimidos à cabeceira, lembram-se?), viram, há um par de dias, esse belo sonho espatifar-se contra um rail ao largo do Colombo. Um Wake Up Call que nos demonstra não valer a pena alimentarmos ilusões. É mesmo assim a ancianidade: vem sóbria, refinada, madura, elegantemente vestida de cinzento, com uma estrela de três pontas na lapela mas, infortunadamente, conduzida pelo Eusébio. Quando damos por ela já só resta sucata e um velhote sorridente a afirmar que o veículo quis dar beijinhos ao separador. Deprimente. Valha-nos a indústria farmacêutica para nos ajudar a aceitar com naturalidade as nossas tontarias. Não sei o que andam a aviar aos maduros, mas a ver se não me esqueço de, chegado a essa idade, arranjar uma receita para mim.

Vergado ao rigor de 70 invernos, o Nakajima de Lourenço Marques mostrou que, lamentavelmente, já não está nem para as curvas, nem sequer para as rectas. Felizmente conseguiu sair praticamente ileso do sinistro, recorrendo apenas (e a contragosto) ao auxílio de canadianas. O vetusto avançado terá protestado mas o médico do INEM que o avaliou no local recusou-se veementemente a atribuir-lhe licença para conduzir a cadeira de rodas. Segundo consta, dirigia-se na altura do acidente para a loja do Continente mais próxima. Coincidentemente encontrava-me nessa superfície no momento em que ocorreram estes factos. E tenho de confessar o meu alívio quando tomei conhecimento do sucedido. Imaginem o que seria dar de caras com o Pantera Negra, no corredor das bolachas, aos comandos do carrinho de compras.

Apesar da sua juventude, há já quem afirme que este blogue não tem futuro; que está sem vida, caquético, acabado, que não tem pernas para andar. Deixe-me dizer-lhe, prezado leitor: mais depressa o deixo parado que à boleia do Eusébio.

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