quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Soltem-se os Picassos

Muito daquilo que vai ser o dia é definido no momento em que se acorda. A primeira acção matinal desencadeia uma sucessão de novas acções cujo corolário se torna, muitas vezes, imprevisível.

Ainda na passada semana, por exemplo, levantei-me e, descalço, dirigi-me à cozinha. Não demorou muito para que começasse a sentir aquele piquinho na garganta.
- Foda-se! - pensei para mim - Já está! Já fiz merda. Atacar já isto. Onde estão os Cêgripes?
Vasculho na gaveta dos remédios, na dispensa, no armário da cozinha... nada... quarto, sala, casa de banho, gaiola do periquito... também não. Ando nisto um bom bocado quando me avisam que estou atrasado. Saio esbaforido, meto-me no carro, arranco depressa. Vou, vou, vou, passo o amarelo, segue, segue, segue, viro à esquerda, viro à direita, de novo à direita, nariz a escorrer, limpo a ranhoca ao que está mais à mão, outro amarelo, dá-lhe, dá-lhe, dá-lhe, já está, agora sempre em frente, outro semáforo, vai dar, vai dar, vai dar, cai o vermelho, ora foda-se, passo na mesma, e passei, boa, mas bolas, polícia à esquina, pri, pri, pri, encosta aí ó fachavôr...

Blá, blá, blá velocidade, blá, blá, blá inconsciente, blá, blá, blá, acidentes, blá, blá, blá e blá, blá, blá, assine aqui sôr condutor.
Sermão ouvido e bolso mais leve, sigo para o trabalho, agora devagar.

Blá, blá, blá, atrasado, blá, blá, blá, irresponsável, blá, blá, blá remelas nos olhos, blá, blá, blá, barba por fazer, blá, blá, blá, ranhoca na gravata, blá, blá, blá, gota de água, blá, blá, blá, despedido!

Muito daquilo que vai ser o dia é definido no momento em que se acorda. A primeira acção matinal desencadeia uma sucessão de novas acções cujo corolário se torna, muitas vezes, imprevisível.

Hoje, desempregado, acordei com vontade de molhar o pincel, de soltar o Picasso. Volto-me para a patroa e sussurro-lhe docemente ao ouvido:
- Vou caiar os muros.

Gosto de caiar. Caio para a esquerda, caio para a direita, caio para cima e caio para baixo (que é para onde a maioria costuma cair). Não tenho um traço firme e definido. A minha técnica assemelha-se mais à do Jackson Pollock. Salpico para a esquerda, salpico para a direita, salpico para cima e salpico para baixo (que é para onde a maioria costuma salpicar). Para mim este ritual das pinturas é terapêutico e permite-me reflectir sobre as coisas importantes da vida. Principalmente quando me sento a contemplar o emocionante processo de secagem  das tintas. É aí que me surgem as melhores ideias (normalmente aparecem por detrás do arbusto aqui do pátio). E foi ainda há pouco que uma destas brotou por entre as folhas:
E se pudesse aliar o gosto pela pintura com a paixão pelo Sporting?
E se o Sporting ostentasse a minha criatividade?
Não me interpretem mal. Não me refiro a pintar muros, ou escadas, ou mastros. Isso é coisa de polícias.
Estou a pensar antes no seguinte:
E se o Sporting desse oportunidade aos seus adeptos de desenharem o equipamento alternativo para a época seguinte?
A ideia é simples:
- O Sporting lança o desafio a todos os adeptos;
- Muitos irão responder com a sua criatividade;
- Uma comissão composta por membros da direção do Sporting e da marca responsável pelos equipamentos escolheria as 5, ou as 3, ou as 7, ou até - a bell rings [tradução: anéis do abel] - as 12 melhores propostas;
- As propostas seleccionadas seriam colocadas no site do Sporting e sujeitas a votação on-line por parte dos sócios;
- A proposta mais votada tornar-se-ia no 3º equipamento para a próxima época;
- O vencedor, para além do orgulho de ver o Leão equipar com uma camisola desenhada por si, poderia ser contemplado com uma Gamebox para a época e uma camisola autografada por todo o plantel. Last but not least and above all, incluído no pacote, uma visita aos balneários das cheerleaders (na altura das banhocas).

Pensem nisto.
Já imaginaram uma camisola desenhada e escolhida por nós?
Seria brutal! E mais uma maneira de aproximar clube e adeptos, fazendo-os sentir parte do mesmo.

Muito daquilo que vai ser o dia é definido no momento em que se acorda. A primeira acção matinal desencadeia uma sucessão de novas acções cujo corolário se torna, muitas vezes, imprevisível.

Molhar o pincel pela manhã pode conduzir aos chuveiros das cheerleaders ao anoitecer.
Grande Sporting!
Soltem-se os Picassos!

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro,desconhecia este espaço até ao momento que o conheci(profundo,filosófico...bem sei...)regressarei mais vezes para me rir com genuína satisfação,da sua brilhante escrita!Continue assim.
ps:Sim,seria uma ideia realmente inovadora que gostaria imenso de ver iniciada,só pela originalidade e pelo bom gosto...não teriamos com toda a certeza equipamentos roxos...
SL

secretário do Acosta disse...

Caríssimo, os equipamentos alternativos deste ano não cabem na cabeça de ninguém. Sempre que a equipa entra com eles em campo, fico de coração nas mãos. Por um lado destroçado com aquele roxo. Por outro, completamente acagaçado - de certeza que é pecado o Sporting equipar daquela maneira e qualquer dia vamos pagar pela heresia. Valha-nos Alá que parece não se importar com o roxo.

Obrigado pelo comentário.

SL!